Sebastião Odithes
Mais uma vez aqui estou para relatar mais um capítulo da minha
vida, agora como estudante interno do Ginásio Natividade, foi por volta do ano de mil novecentos e cinqüenta
e oito, época em que estive no internato do colégio realizando o curso
ginasial, e, como a maioria dos estudantes que ali se encontravam, gostavam de
dançar, e num desses dias foi que rolou
o que relato nesta página como prova testemunhal do comportamento de
adolescentes agrupados e unidos por um mesmo ideal: estudar!
O fato aconteceu em uma das tradicionais festas de setembro,
o clube de Natividade era o N.T. C. - Natividade Tênis Clube (não existia o
Clen), e fazia realizar mais uma edição dos tradicionais bailes do tríduo
festivo, e, sempre abrilhantado por grandes conjuntos ou orquestras, e este
baile, era abrilhantado pela Orquestra Pato Preto, onde seus músicos saiam
tocando do palco do clube e se misturam com os demais dançarinos sem perderem o
ritmo e também a harmonia musical, um perfeito entrosamento entre músicos e
dançarinos, e aquilo era motivo de mais animação a todos, em seguida parte dos
músicos retornavam para o palco e ficava ainda no meio dos dançarinos apenas o
Maestro Pato Preto, que executando musicas latinas deixavam a todos
boquiabertos e era motivo de muitos aplausos!
Uma noite inesquecível com casa cheia e todos se divertindo
bastante, claro, com muito calor, pois, o clube era com poucas entradas de ar e
funcionava no espaço acima de Dargan Ferragens e na parte baixa era o Cinema
Ouro Verde!
Foi uma época de sucessos musicais famosos como-Estúpido
Cupido- com Cely Campelo, Vai, mais vai mesmo com Nona Ney, Deusa do Asfalto
com Nelson Gonçalves, Não digo o Nome com Anísio Silva e tantas outras musicas
nacionais e internacionais famosas, músicas realmente inspiradas por grandes
músicos, compositores e cantores de absoluta qualidade, enfim, tudo perfeito
para tudo ser sucesso!
Claro que todos os participantes (dançarinos) se vestiam com
passeio completo, e as damas com penteados inovadores e vestidos extremamente
belos, enfim, lindas de verdade e nós homens, claro, por obrigação e nem sempre
gostando muito, mas, também fazíamos de tudo para não decepcionar, já que
normalmente nós homens precisamos de muito pouco para ficar mais belos, mas,
fazíamos a nossa parte, nas mãos um creme para deixar as mãos aveludas e por ai
afora!
Agora é o ponto que quero chegar sobre a minha pessoa, graças
a Deus, meus pais sempre tiveram boa vontade, mas dinheiro era manga, isto é, muito
difícil de ter, pois, era um ano tal qual aos demais, muito tudo difícil!
Com a chegada da festa de setembro, dei um pulo a expliquei
ao Papai Odithes sobre o baile, e que eu precisava que me emprestasse um terno,
era uma época que se usava muito o tal de terno!
Bem, levei aquele papo com o velho e í arranquei dele o
empréstimo do terno de linho branco dele, para que eu pudesse ir ao baile,
porque não entrava no baile sem se apresentar trajado de terno completo!
No dia do baile com esta orquestra famosa, a expectativa era
grande e a animação dos internos não poderia deixar de também ser grande,
enquanto uns se vestiam, outros calçavam meias e sapatos, enfim, aquela zorra
de corre prá lá, corre prá cá, me empresta isso, quem quer isso, e o tempo ia
passando, e fui vestir a calça do terno, e a calça era comprida demais pra mim,
e fiquei triste demais e então resolvi botar a boca no trombone pedindo a quem
tivesse alfinete de cabeça pra me emprestar, para eu tentar fazer a bainha da
calça, do contrário, eu não poderia ir ao baile, e assim fiz, virei à calça
pelo avesso e enfiei alfinetes de cabeça em todas as bainhas da calça e até que
ficou legal, mas, ao vestir a calça, um dos alfinetes enfiou no meu dedo
ferindo e sangrando, mas, o momento era a de ação e não lamentação, porque,
além disso, posso afirmar que homem é homem e gato é gato, consegui vestir-me e
modesta parte fiquei até bem bonitinho, claro dentro da minha acentuada
modéstia!
Os demais gritavam, outros respondiam, porque a cor escura da
calça tinha de ser combinado com meias da mesma cor, e os sapatos combinados
com a cor dos cintos, enfim uma agradável confusão que ao findar das confusões,
tudo estava dentro dos conformes e em manada, todos com algumas vodkas ou rabo
de galo na cuca, lá chegamos, dançamos alegres e felizes e ao voltamos para o
colégio, voltamos também radiantes e cansados, e quebrados, é claro que
chegamos e apagamos!
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